lundi 10 mars 2008

Sanidade? Não, obrigado.


Estava eu há alguns dias me debatendo para escrever sobre o tema “normalidade”. E juntamente o meu ódio e desprezo pela mesma. Eu tentava achar a origem desta raiva do que é comum, ordinário, ponderado, contido. Eu não achei. Sei que tenho. Talvez esteja me adaptando à minha recente aceitação do meu quadro definitivamente anormal. Cá entre nós, eu estou até gostando deste diagnóstico. Um doido é muito mais livre que um são.
Eu tendo quase sempre a me simpatizar com pessoas estranhas, esquisitas, anormais, bizarras e afins. Geralmente são mais divertidas.
Daí eu achei um texto do Oscar Wilde que diz exatamente o que eu queria dizer. A gente sabe que o cara é o cara quando ele consegue traduzir tão bem a mente pro papel.
Enfim, eu me calo e passo a palavra pro Oscar:


Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.

Escolho os meus amigos não pela pele nem outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito ou os maus de hábitos.

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero o meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco!

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.

Não quero só o ombro ou colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos, nem chatos.

Quero-os metade infância e a outra metade velhice.

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto.

E velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos,

Nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão estéril.


Oscar Wilde

6 commentaires:

Maíra Lisbôa a dit…

ja meus amigos sao meio assim: um pouco das cinzas do carnaval do ano passado

Unknown a dit…

As únicas pessoas que me interessam são as loucas, aquelas que são loucas por serem salvas; as que desejam tudo ao mesmo tempo; as que nunca bocejam ou dizem algo desinteressante.

Rafael a dit…

O normal é, por mais que se debata, chato.

Anonyme a dit…

Diante da afirmação "tendo quase sempre a me simpatizar com pessoas estranhas, esquisitas, anormais, bizarras e afins", fiquei pensando em qual das classificações você me enquadrou.
Haveria hierarquia entre elas?

Anonyme a dit…

...
"Se assim como vejo os corpos por fora, visse as almas por dentro:

Ah, que penitenciária os desejos!
Que manicômio o sentido da vida!"

Mais uma de Fernando Pessoa.

Anonyme a dit…

Não resisti a esse outro:

...
"Queriam-me casado,fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim.
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?"
...