mercredi 17 décembre 2008

Torpor




Por maior que fosse o poeta,
E mais perfeita sua poesia
Viveria ele em eterna agonia
Em vão com sua arte inquieta

A metáfora mais esperta
Ao descrever minha euforia
Seria sempre uma ironia
Inevitavelmente incorreta

Palavras humanas
Por si só, sejam como for
Serão sempre levianas

Pra entender este torpor
Tome um jarro de absinto!
É assim que eu me sinto,
Meu amor!
by Fábio

vendredi 17 octobre 2008

Quão estúpido é o povo?



Não sou muito fã de discussões políticas, detesto ter que entender qual partido é amigo de qual, nunca compreendi o voto em legenda... enfim, falar de política não é o maior dos meus prazeres... Entretanto há uma questão latente na cidade onde moro. Tornou-se inevitável tocar no assunto. O candidato Leonardo Quintão que provavelmente ocupará a prefeitura de Belo Horizonte nos próximos quatro anos. O detentor de 51% das intenções de voto de BH possui algumas características bastante repugnantes:


  • É evangélico, leia-se explorador de mentes fracas e bolsos sem fundo. O pior tipo de ser humano no Guiness Book é evangélico. Todos os evangélicos são vômitos apodrecidos que deviam se extinguir da face da Terra... etc.... passemos ao segundo ponto;

  • Vem de uma família tradicionalmente corrupta de Minas Gerais. Seu pai é prefeito de Ipatinga, tido como o prefeito mais corrupto do estado, entupiu a prefeitura da referida cidade de evangélicos e nenhum projeto é aprovado sem que ele leve 10% pro bolso. Pai e filho juntos respondem a 9 processos criminais na justiça eleitoral.

  • Ele força um sotaque falso de débil mental pra atingir o povão, que vamos ser sinceros, também é débil mental.

  • É o playboy máximo, arrogante, riquinho, filhinho de papai e irresponsável.

  • É do PMDB, um partido que possui uma história bonita, mas que hoje se transformou no exílio de todos os mercenários corruptos do país.

O que eu quero dizer é: pra quem achava que a massa de eleitores tinha evoluído desde o Collor, lego engano... pelo jeito regrediram...
Outro dado importante que ouvi no rádio... das 47 cidades que são tidas como modelo de educação no Brasil, nenhuma delas tiveram seus prefeitos reeleitos... sinal claro que o povo não valoriza uma prefeitura que investe no conhecimento e na evolução mental das próximas gerações.... chegamos então na pergunta do ovo e da galinha... quem nasceu primeiro, o político populista ou povo burro?
Agora tenho que sair, vou procurar um lugar pra morar fora de BH...
OBS: se você me conhece e vai votar no Leonardo Quintão, favor não me dirigir a palavra mais... aproveite e morra atropelado também...

lundi 22 septembre 2008

Numa madrugada, na rua da Bahia...



As cores são mais cores
O peso do peito é leve,
Leve-o.


A dureza enfraquece,
A frieza se recolhe.
O espaço agora é invadido
Pela leveza impávida.


A Rua da Bahia pára
Enquanto a Terra gira.


A luz vermelha não se apaga
Só, no alto, testemunha
Sua homóloga do chão,
Que diferente dela,
Não nasce de eletricidade,
É espontânea,
Som de encontro
De solidão.


Pálida, frágil, absurda.
Pequena, holofote azul.

Um peito morto revela,
O poder imenso
Do cheiro guardado
Da mágica incrível.
Esquecido num baú antigo,
O peito é conservado
E o artefato quando aberto,
Exala o aroma
De pó acumulado.

O peso-morto ressuscita,
Reergue-se,
Quando lhe tirado o peso,
Levanta-se e percebe
Que hibernou, não morreu.
O inverno está no fim,

lundi 4 août 2008

Invejamor





A chama observada
Na bela pira da labareda
Desperta na lenha molhada
A inveja mais azeda

O mapa dessa vereda
Registro só numa folha borrada
Norteará uma poesia abandonada
Numa outra traiçoeira alameda

Este belo tecido nobre
Tramado com delicada seda
Que hoje me encobre

Expõe escancarada
A nudez do amigo pobre
Na sua alma desencantada


par moi

vendredi 1 août 2008

Vôo sem Volta





Certa vez me prometi abraçar o mundo
Como um ingênuo tolo, pura criança
O jovem confia cegamente em sua pujança
Ignorante da cólera do destino iracundo

No oceano azul me atiro e me afundo
Infinitos mistérios preenchem-me de esperança
Quem desconhece seu lado mais profundo
Aprende que em alto mar não há temperança

Arregalo os olhos com pavor
À imensidão e seu poder assustador
Ofusca minha razão, me encandeia...

Já não há volta ao velho lar,
O precipício à beira da trilha me trapaceia
No próximo passo, hei de cair ou de voar...
par moi

mercredi 30 juillet 2008

Sexo poético entre o homem e o vinho



Que bem te fiz,
Ó vinho terno
Para que me aqueça o coração,
O cobertor que me abraça
Na noite fria de inverno?

Ó homem ingênuo,
És minha ferramenta,
Não me existe maior prazer
Que mergulhar-me profundamente
Em tua ampla goela sedenta,

Bebida amiga,
Dê-me seu conselho
Como posso eu retribuir
A sublimação deste mundo incolor,
A passagem para o belo céu vermelho?

Não te enganes,
Homem simplório,
Não há favor no que faço
Se for teu o prazer de ter-me no peito
Embriagar o mundo é meu espólio

Pois abuse do meu corpo,
Vinho refulgente,
Expulse-me de vez do mundo pálido,
Guie-me para o caminho sem volta,
Para o infinito universo dormente

Assim pudera, logo faria
Ó homem mundano,
Mas irônica é a vida
O prazer só há, se houver também
O sofrimento quotidiano

Não há então, meu bom vinho
Razão pra me ansiar,
Se para preencher-me de êxtase
Necessitas de amargura
Motivo não há de faltar

Pobre homem,
Abra sua garganta,
Neste momento me atiro
Torno-me agora a ébria alma
Do teu frágil corpo que decanta

Venha vinho amante,
Desejo provar dos seus sabores
Arrebente-me o corpo
Violente-me a consciência
Possua-me sem pudores
by me

mardi 22 juillet 2008

A xícara de Hiroshima



Ontem, durante uma conversa especial, me lembrei da xícara de Hiroshima.
Numa visita a um museu da 2ª Guerra Mundial, havia entre os muitos artefatos uma xícara. Vinha da cidade de Hiroshima. Era branca com detalhes azuis bem pintados e curvos. Uma peça muito bem trabalhada. Muitos chás tinham passado por aquela xícara antes da bomba.
Então a bomba atômica caiu. E a cidade desapareceu. E o que sobrou dela foi colocado nesse museu. Através dos efeitos surreais da irradiação da bomba atômica, a xícara sofreu uma mutação absurda e fantástica. Uma metade dela continuava intacta, branca e com detalhes azuis bem pintados. A outra metade se mostrava uma escultura numa forma de tumor cerâmico, destorcido, aumentado, lindo. A primeira metade mostrava seu passado, esculpido, delicado, bonito. A outra metade mostrava as conseqüências do presente, deformado, bruto, bonito.
Não adianta, faça o que quiser, diga o que disser, mas o mundo sempre dá um jeito de vomitar algo bonito. Não importam os motivos, as origens, as intenções... algo de belo sempre há de nascer, mesmo de uma bomba atômica. No meio fétido, sempre é possível cheirarmos um perfume, se aguçarmos nosso nariz.
A beleza não respeita as leis dos homens, sejam elas morais, religiosas ou jurídicas.
A beleza é eterna, o homem é passageiro.

dimanche 20 juillet 2008

Bateaux brullés



À chaque fois
Le monde s’arrete
Ils le savent
La magique se repète

La raison
Je la tiens
Tes yeux
Sont près des miens


moi

lundi 14 juillet 2008

Sobre o conformismo





Razão impossível
Além de onde
Quem diria
Um belo dia
Eu estaria

Vôo Distante à
Estrela intocável
Alguns poucos
Têm a sorte de visitar os astros
E fazem sonhar os que estão
Nesta pequena Terra

Quem já visitou o infinito
sabe
Que na verdade não há o espaço
O impossível não há
Acredito

No céu infinito
Não há distância impossível,
O dia não existe
O que há
É um verdadeiro espaço
Entre a intenção
E o primeiro passo


by me

mercredi 9 juillet 2008

Frases bestas, soltas, nascidas no álcool coletivo e anotadas num papel qualquer (parte 1):




Poema do Boêmio medíocre

Minha religião tem Baco no céu
As Marias não são virgens
As noivas não usam véu

Minha igreja tem Vinícius como profeta
Seu templo é o bar
Pecado é andar em linha reta

O dízimo é pago sem contestação
Os dez por cento são convertidos
Automaticamente
Em gorjeta pro garçon


Afirmações:
Emílio Santiago, além de cantor, é o melhor whisky de milho do Chile.


All you need is Love


Virgem Maria e Jesus possuem existência mutua impossível. Ou há uma virgem, ou há um filho.


Quem perde o assento não está necessariamente de pé.


Diálogos:
1)
Bêbado 1: - Você é apaixonado pelo seu trabalho?
Bêbado 2: - Não, só tô comendo.

2)
Bêbado 1: - Alou, Unimed?
UNIMED: - Sim?
Bêbado 1: - Estou com um problema nos tímpanos.
UNIMED: - Sim?
Bêbado 1: - Vocês poderiam me disponibilizar um trompetista?

vendredi 27 juin 2008

Amanhã




Ontem eu não fui
O que deu tempo de ser
Era cedo e
Não quis poder

Hoje sonho distante
Do futuro que vem
Esfregar-me no rosto
O fim do instante

Serei então
O que hoje sou eu,
Um sonhador nostálgico
Que faz do passado vazio
O imaginado de um futuro passado
Que não viveu


by me

mercredi 25 juin 2008

Anti-Cristo







Não, eu não agüento!!
Quem me conhece sabe o que eu penso sobre religiões: elas são o mal do mundo. Sempre foi e sempre será a principal fonte de discordância, violência, preconceito, intolerância, racismo e todos os “ismos”, “ceitos” e “ancias” maléficos da história humana. Falo brevemente, pois quero atacar um alvo específico hoje. Quero deixar claro: eu odeio TODAS as religiões, mas tem uma que vem me incomodando particularmente muito nos últimos tempos. Os idiotas da igreja universal do reino de deus e suas corporações adjacentes. Pra ser bem claro: se você que está lendo o blog e pertence a essa igreja, você é um idiota, maléfico e eu desejo todo o mal pra você e sua família. Eu te desejo uma morte lenta e dolorosa. Eu te odeio e odeio todas as pessoas para quem você dirige a palavra.
Estou cansado, farto, enojado dessas atitudes que passam despercebidas por nós pelo pressuposto imbecil de que temos que tolerar as religiões, como se fossem incontestáveis:
Na minha cidade derrubaram na calada da noite casarões históricos para fazerem um estacionamento para o grande templo da fé desses merdas.
A bancada evangélica em Brasília só cresce, e todo mundo sabe que é a turminha do colarinho branco mais corrupta, cínica (e ainda assim isenta de impostos) e mercenária do país.
Redundante falar da exploração da ignorância e pobreza dos pobres coitados que se agarram em qualquer crença que os iluda a sair das vidas miseráveis que vivem. Mesmo que tenham que pagar por isso.
Acabo de ler no jornal que os evangélicos foram protestar no congresso contra o projeto que criminaliza a homofobia. (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u416125.shtml ). Numa boa, que merda esta igreja está fazendo?
Na verdade me canso até de falar deste assunto, me exaure completamente. É muita podridão aceita muito facilmente. As religiões têm esta característica de segregar as pessoas e cortar o diálogo entre elas. Entretanto a igreja evangélica deixa isso mais evidente no dia a dia, pelo seu boom atual que enriquece os pastorezinhos de merda.
Pronto, desabafei. Melhor ir fazer algo que me cause um sorriso pra despressurizar a tensão da revolta. Aos evangélicos, eu vos desejo a extinção e apóio vosso genocídio.

mardi 24 juin 2008

O engenheiro embriagado.

painting by Judi Bagnato






Depois de longos, confusos, frustrantes, árduos, mutantes, áridos, e verdadeiramente penosos anos dentro da escola de engenharia, eu me formei. Eu não consigo esquecer as promessas de outros tempos. Faria ritual de queima de livros de cálculo e equações diferencias. Compraria foguetes e os soltaria nas janelas do prédio da faculdade. Deitaria no corredor e gritaria até perder a voz. Beberia todo o álcool que meu corpo pudesse agüentar. Todas as promessas pra quando o dia chegasse. O dia chegou. Não, não vou cumprir as promessas. Vou comemorar comigo mesmo, na intimidade da minha insanidade.


1h e uma garrafa de Saint Emilion mais tarde...


Duas taças na mesa, uma de água, uma de vinho. John Coltrane no ouvido. Noite morna. Que mais alguém precisa?O vinho, a única prova material que Deus existe. Não, não acredito em Deus. Acredito no vinho. Vinho, eu te amo.


Como o silêncio, como a solidão, o vinho me ajuda a enxergar com nitidez o espelho opaco que me reflete. O vinho, diferente de qualquer entorpecente, tem gosto de êxtase.


Agora Louis Armstrong canta “Hello Dolly!”. Talvez seja melhor ir dormir, antes que algo estrague meu dia bom. Seguindo as instruções de um bom amigo: “calma, com uma garrafa de vinho nada de mal pode te acontecer”, permaneço.


Lúcido, porém embriago, eu permaneço. E escrevo. Eu perdi o aniversário do meu blog, mas sei que já faz mais de ano. Hoje eu tive que calcular minha idade. Já foi feito, já lembrei. Lembrei também de um poema lindo do Quitão (Mario Quintana para os não-próximos): (estranho, abri o livro justamente da página):


Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”




Poema sai mais fácil que texto. Poema não é texto. Texto é tosco. Voilà:


Eu só busco
Achar não me convém
Buscar me basta
Ao fim o meu desdém

Se há o final da linha
Tirem-me da rota
Mintam-me o caminho
A verdade não me importa

By me.

OBS: A lebre que cruza a linha é a lebre morta.

mercredi 4 juin 2008

Poeminha cafona sobre saudade

painting by Paulus Paulus






Ironicamente
Faz-se presente
No momento mais ausente


Nasceu há muito
E não pretende envelhecer
A saudade há de vencer

mardi 20 mai 2008

Capítulo 2



Durante reflexões ao longo do dia sobre o meu texto anterior e sua discussão subseqüente cheguei à conclusão de que eu fui pobre nas minhas declarações. Pobre no texto e na discussão. Talvez por não ter crido que alguém realmente lia meu blog. De toda forma, não me contenho em não estender o assunto por mais um texto.

Comecei sendo pobre no texto, pra começar. Fiz declarações bombásticas sem que me fundamentasse em alguma teoria, ideologia, chame do que quiser. Não se engane, são atitudes fundamentadas, porém não expostas no texto, por isso a revolta de outrem. Depois fui pobre na discussão, passei a impressão de ter ficado ofendido pessoalmente com a crítica negativa do sr. Anônimo. E mais, argumentei fracamente e precipitadamente. Na verdade, escrever organiza minhas idéias, e o questionamento do sr. Anônimo pode ter me desafiado a refletir sobre minhas lamentações, internamente. Então, mais do que pra qualquer pessoa, retifico o texto pra mim mesmo.

O fato de prosseguir neste assunto é revelador pra mim, percebo que o blog me é mais importante do que pensava. Pra quem o lê pode ser mera distração, porém o que eu lá coloco é real e genuinamente saído de minha cabeça direto para a Internet. Desta forma, não estou a defender o blog, estou defendendo meus pensamentos, minhas atitudes. Para preservar o ímpeto racional do blog, portanto da minha personalidade, vou melhor explanar minhas injúrias.

Primeiramente o texto: à primeira parte não adiciono nada, acho sim que a maioria das pessoas se limitam no pensar, e que por motivos diversos restringem suas reflexões à assuntos corriqueiros e sem importância. A proporção de notícias nos telejornais é um reflexo explícito do que interessa às pessoas: escândalos de “celebridades” (leia-se pessoas que aparecem com freqüência nos canais de televisão) e esportes (leia-se futebol). Podem discordar de mim, mas isso é sinal de uma sociedade extremamente idiotizada. Sendo pretensioso e sem nenhuma culpa por isso, se você não concorda, melhor rever seus conceitos. Onde eu acredito que tenha falhado foi na segunda metade do texto. Citei um mero exemplo do futebol para demonstrar a tendência massificada de preferência e gosto do meio em que vivo. De certa forma conduzi o texto para um ataque cirúrgico ao esporte futebol, que não era minha intenção inicial. Isso porquê o futebol é um grão de areia dentre as dunas de fundamentalismos que invadem nossas terras, tornando o referido esporte em algo de menor importância no contexto. Não pense que por isso o futebol se safa de culpa. Quem quiser se informar mais sobre o poder de alienação deste esporte assistam Pra Frente Brasil (1982) e O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006), ambos exibem muito bem a política de “pão e circo” onde o futebol é protagonista. O assunto que queria abordar entretanto era justamente a imobilidade da maioria das pessoas frente aos questionamentos possíveis a respeito das idéias que nos são enfiadas goela abaixo desde crianças. O futebol é só mais uma delas.


Essa imobilidade me incomoda sim e se isso me faz um chato, que seja. Tento me abster dessa massa de descerebrados, questionando sempre e sendo do contra quando julgo necessário, sem nenhum pudor.


O fundamentalismo deve ser combatido, em qualquer gênero que ele possa existir. O fundamentalismo é a aceitação de uma idéia pela simples crença infundada, pela fé. Ora, fé nada mais é que ignorar qualquer evidência racional de algo que contradiga os dizeres fundamentalistas, imbecilizando a pessoa que tem fé, enfim.

“Prefiro dizer que acredito nas pessoas, e as pessoas, quando incentivadas a pensar por si sós sobre toda a informação disponível hoje em dia, com muita freqüência acabam não acreditando em Deus, e vivem uma vida realizada – uma vida livre de verdade”
Richard Dawkins

Este é um trecho do livro Deus, um Delírio, mais que um ataque à religião, um ataque ao mundo irracional. Quem leu o livro sabe que a palavra Deus destacada, não se refere somente ao deus judaico, cristão, muçulmano ou qualquer que seja, mas se refere à toda e qualquer crença isenta de reflexões baseadas na racionalidade. O futebol é também uma crença irracional.
Surpreendentemente me lembro do dia em que me tornei atleticano. Era bem pequeno, e havia ocorrido uma discussão entre meus coleguinhas entre atlético e cruzeiro. Até então eu não sabia o que eu era, por isso me ausentei do debate. Ao chegar em casa naquele dia perguntei ao meu pai se eu era atleticano ou cruzeirense, que me respondeu prontamente: “ Você é atleticano!”. No dia seguinte já tinha me alistado na turminha dos atleticanos e já trocava sopapos com os até-a-véspera-amigos cruzeirenses. Não sei a história de cada pessoa, mas voltando atrás, este fundamento é absurdamente inconsistente para eu me estressar com o referido time de futebol. É um programa legal ir ao Mineirão, ver a torcida pular e etc, mas todos nós sabemos que o evento não fica só nos prazeres. Se o time perde há choro, depressão, brigas, mortes, uma imbecilidade além de infinito. Bom, assim como não gosto de picolé de abacate, não consigo amar um time de futebol, cada pessoa é de um jeito, eu sou assim. Você pode gostar de picolé de abacate e amar seu time (as duas sensações têm o mesmo nível de importância), eu não vou te desprezar por isso, só que eu não sou assim.


Em suma, prefiro colocar as cartas na mesa e pensar abertamente nas coisas da minha vida: selecionar aquilo que me instiga o âmago e excluir aquilo que não me dá nenhum tesão. Simples assim. Sem pudor do passado, me vejo mais verdadeiro. Bem diferente do que eu era, mais consciente da minha carne e do meu osso. Convido o sr. Anônimo a fazer isso também, pode ser uma experiência bastante reveladora.

Quanto às minhas respostas, se pudesse eu as teria escrita de outra forma. Reagi muito mal à crítica. De fato, a crítica foi contundente, eu acredito que ando mesmo muito reclamão. Uma frase de Woodrow Wilson: “ Se você quer fazer inimigos, tente mudar alguma coisa”. Esta citação aparentemente serve até para um mero time de futebol. Eu não sou sempre do contra, eu só tento esquivar de fundamentalismos presentes no meu pequeno universo, e no meu caso, o futebol é um deles. Assim também são as religiões, os financiamentos em 24 vezes sem juros e muitas outras idéias enlatadas que não pedi pra comprar. Romper com meu time de futebol não é um ato isolado, é uma simples conseqüência que quase me passou desapercebida de uma filosofia de vida onde eu possa racionalizar sobre TODAS as escolhas da minha vida.

Senhores Anônimos, não hesitem em atacar. Os amigos na verdade nunca criticam, melhor escutar quem não tem pudores comigo.

lundi 19 mai 2008

A vida complexa e as pessoas inteligentes.

Gril Before - Picasso



Eu venho descobrindo algo nos últimos tempos que me traz uma sensação boa a cada confirmação. É que entre o oito e o oitenta existe um mundo infinito, complexo e, por isso, que atiça minha curiosidade. Ao mesmo tempo me causa um dó das pessoas que insistem em afirmativas assertivas, simples e pré-fabricadas. Mas o dó não me atormenta suficientemente para que eu continue a escrever sobre o mesmo. A cegueira humana já não me perturba tanto mais, tento viver minha própria vida abençoada com visão, míope, mas visão. Um assunto recorrente que escrevo é sobre a individualidade, a personalidade de cada pessoa, o quão maravilhoso é você descobrir ao longo da vida as coisas de que você gosta. Do tipo de roupa, tipo de música, tipo de comida, tipo de filme, de amigo, esporte e de tantas outras coisas que existem. Temos um péssimo hábito de simplificar as discussões, de atingirmos conclusões apressadas com um mente preguiçosa. Eu sinto que temos medo de pensar. Já sentou numa mesa de bar, a discussão se tornou mais complexa e interessante e vem um sujeito e diz: “vocês estão viajando na maionese”, ou “vamos falar de futebol porra!” e outras frases que intencionam romper um surto de assuntos onde se usam realmente neurônios? Esse sujeito, em minha opinião, tem medo de pensar. O fato é esse, as origens podem ser várias: pais que são burros e sempre reprimiram o pensar na casa onde ele foi criado; notas ruins na escola o fizerem crer que era estúpido e desde então evita participar de qualquer diálogo mais complexo, tornando-o, finalmente e verdadeiramente, estúpido; personalidade fraca, de mãos dadas com a auto-estima desnutrida, que o alojam num canto separado das pessoas que têm a liberdade de se comunicar plenamente. O mundo é complexo, a realidade é complexa. Os simplistas vivem num mundo à parte, bitolados, sem nenhum toque com o mundo que os rodeia. Ser burro é uma escolha que você faz todos os dias, cada vez que levanta da cama. Todos nós temos uma máquina incrível e poderosa chamada cérebro, que está à nossa disposição para ser usada e abusada. Porém a maioria escolhe poupá-la. Mais uma daquelas economias porcas.

O esporte é um exemplo, principalmente no Brasil: praticam-se aqui dois: futebol e futebol. Não posso encontrar melhor exemplo. Quando se vê outros mares, outras culturas, nota-se um fato bizarro. As pessoas assistem esportes muito esquisitos, como tênis, golfe, cricket, rugby, iatismo, windsurf, snowboard, basquete e outras categorias absurdas. O futebol também é visto, porém apenas como mais um esporte. Sim, o futebol é o mais popular, porém outros horizontes esportivos são possíveis de acordo com a preferência de cada pessoa. Isso nas terras não-brasileiras, claro. Esta massificação dos gostos é cruel e me enoja, um dos motivos que estou encerrando por definitivo minha carreira de atleticano. Não faz sentido nenhum me matar por uma pessoa jurídica com CNPJ e tudo e que nem sabe que eu existo, nem vai lamentar no dia que eu bater as botas. É simples assim. Tinha inclusive cogitado me tornar cruzeirense, só pra ser do contra. Mas resquícios dos meus 27 anos de atleticano me impediram de abraçar essa causa com tamanha audácia. Fora que uns amigos me ameaçaram prejudicar fisicamente caso eu tomasse efetivamente esta decisão. Além disso, simplesmente trocaria seis por meia dúzia. Então me contive em me abster de qualquer time de futebol, não torço mais por ninguém. Esta atitude é um pequeno pedaço de miolo de pão da baguette que é minha vida. Pretendo realmente descobrir minha personalidade ao longo da vida, quero viver dia a dia fazendo minhas escolhas legítimas, do que e de quem eu gosto, deixar me levar pelas minhas vontades verdadeiras, sem medo de culpa, sem medo de opiniões alheias, sem medo de moralistas, sem medo de ninguém. Meu medo é viver torcendo pro galo, pagando carnês das casas Bahias e assistindo Gugu Liberato no domingo.

Dêem licença, vou sair pra viver minha vida.

mercredi 7 mai 2008

Eu sou brasileiro, mas desisto sempre.





Refletindo um pouco sobre o slogan “sou brasileiro e não desisto nunca!” cheguei a duas conclusões possíveis:


1- Eu não sou brasileiro e fui trazido ilegalmente do Paraguay por conta de um tráfico de órgãos mal sucedido e fui adotado pela minha família atual que até hoje me esconde este segredo.
2- Esse slogan é estúpido.


Refletimos:
Se considerarmos situações hipotéticas simples, e.g., um telefonema para a casa de um amigo que não se encontra. Eu diria que ligar umas duas vezes até que o telefone pare de chamar ainda é razoável. Quem sabe estava no banho, ou dormindo, quiçá. Porém ligar durante 8 horas ininterruptas até que o referido chegue do trabalho soa um pouco bizarro pra mim. Se todo brasileiro fosse assim, o mínimo que se podia esperar do governo eram secretárias eletrônicas grátis pra todos com o seguinte recado:
“O morador desta residência não se encontra, parar de ligar agora e tentar mais tarde não te fará uma pessoa diminuta nem antipatriótica, muitos menos um desonrado desistente, não se preocupe. A ANATEL agradece. “
Este é um exemplo idiota pra falar a verdade, o que me incomoda mesmo é a filosofia desse slogan. Como pode alguém ter orgulho de não desistir nunca de algo? Talvez pra um soldado na guerra, essa filosofia seja válida, afinal o seu trabalho é morrer eventualmente por uma causa (provavelmente idiota). Se ele desiste de morrer, ele desiste de fazer guerra, e imagine só um país sem guerra! Seria um absurdo, então, ok, os militares podem ficar com o slogan pra eles. Agora, para todos os outros seres humanos que não trabalham para desgraçar o mundo, esse slogan não faz sentido.
Como não desistir de um casamento morto? Como não desistir de uma carreira que não te instiga? Como não desistir de uma amizade que se perdeu? Como não desistir de uma discussão em que você finalmente não tem razão? Esse slogan poda o poder de decisão para quem o segue. Assim como várias e várias mensagens que recebemos diariamente vindo da TV, das igrejas, dos horóscopos e etc, esse “sou brasileiro e não desisto nunca” é só mais um bombardeamento de informação irresponsável que se repercute todos os dias de nossas vidas. Ter a certeza de que podemos sim desistir, e portanto mudar, é libertador.
O poder de decisão e de escolher plenamente os cursos da própria vida assusta as pessoas, por algum motivo. Talvez o homem moldado seja mais fácil de controlar. O homem que tem medo mais ainda. Pois eu me revolto, desistindo, de tudo que eu bem entender. Sem justificativa, simplesmente porque desistir me faz lembrar que dirige minha jardineira sou eu.

vendredi 4 avril 2008

Atestado de Inutilidade.

Incrível como dois imbecis juntos podem potencializar a imbecilidade.
MSN, hoje de manhã:



me is Góes diz:
Cara, tive um sonho bizarro hoje.
Fábio diz:
pois nao
me is Góes diz:
Sonhei que tinha ido sacar dinheiro, e que o caixa eletrônico cuspiu mais do que eu pedi.
Fábio diz:
hauhauhauahhauhauhhauhauaauhah]
Fábio diz:
só em sonho meu caro
me is Góes diz:
Daí eu fiquei lá, desesperado, tentando pegar o máximo que conseguia
Fábio diz:
hahahahahahahaahaha
Fábio diz:
Valendo!
Fábio diz:

Fábio diz:
podia ter uma promocoes dessas
Fábio diz:
se vc for o cleintye numero mil da agencia
Fábio diz:
serao cuspidos 100 mil reais pra vc
me is Góes diz:
"cuspi"dos
Fábio diz:
so que vc so tem 30 segundo pra arrumar uma sacola do accrefour
Fábio diz:
e colocar o maximo de noras
Fábio diz:
notas
me is Góes diz:
hahahaha
me is Góes diz:
Todo mundo ia começar a andar com uma sacola carrefour no bolso.
Fábio diz:
hahahahahahah
Fábio diz:
ia ser legal
Fábio diz:
ponto.
me is Góes diz:
ponto.
me is Góes diz:
Gostei do som dos caras.
me is Góes diz:
Quando que eles estarão em Belo Horizonte?
Fábio diz:
esse ano ainda
me is Góes diz:
OK
Fábio diz:
ponto.
me is Góes diz:
ponto.
Fábio diz:
(Maíuscula) onde voce (acento circunflexo) sair hoje (ponto de interrogação)
Fábio diz:
vai
me is Góes diz:
(maiúscula) hoje na(til)o vou sair (ponto)
Fábio diz:
(maiúscula) por que (acento circunflexo seguido, nao antes de um espaço, do ponto de interrogação)
me is Góes diz:
(maiúscula) porque participarei de um processo seletivo amanha(til)(ponto)
Fábio diz:
(maiúscula) interessante (ponto)
me is Góes diz:
(maiúscula) e (acento agudo) da aiesec (todas em maiúsculas).
me is Góes diz:
ponto
Fábio diz:
(maiúscula) eu te desejo boa sorte (ponto) (espaço) (maiúscula) depois vamos sair pra tomar umas (vírgula) para comemorarmos o sucesso ou o fracasso (ponto de interrogação)
me is Góes diz:
parênteses maiúscula parênteses veremos ponto.
Fábio diz:
abre parênteses maiúscula fecha parentêses ok ponto
Fábio diz:
abre parênteses maiúscula fecha parênteses eu estou paqssando mal de rir aqui ponto
Fábio diz:
abre parênteses maiúscula fecha parênteses nosso ni abre parênteses acento agudo fecha parênteses vel de idiotice alcanc abre parênteses cidilha fecha parênteses ou um novo patamar ponto
me is Góes diz:
abre parênteses maiúscula fecha parênteses se a li abre parênteses acento agudo fecha parenteses ngua funcionasse assim virgula haveria uma tecla escrito abre aspas abre aspas fecha aspas e outra escrita abre aspas fecha aspas fecha aspas.
Fábio diz:
abre aspas abre aspas asp abrea aspas a fecha aspas s fecha aspas fechas aspas
me is Góes diz:
abre parenteses sons de risadas fecha parenteses
Fábio diz:
abre parênteses maiúscula fecha parênteses esquecemos do abre aspas abre parênteses maiúscula fecha parênteses fecha aspas ponto
Fábio diz:
abre parênteses maiúscula fecha parênteses salvei este dia abre parênteses acento agudo fecha parênteses logo no meu computador para deixar eternizado nosso probelam mental ponto
me is Góes diz:
maiúscula ok ponto
me is Góes diz:
(foi mal pela preguiça;
me is Góes diz:
http://www.youtube.com/watch?v=V_JGxvPy4-E
me is Góes diz:
http://www.youtube.com/watch?v=JCOIab6XZTI
Fábio diz:
open parentheses capital letter close parentheses is like you give up long conversation now open parentheses comma close parentheses yes interrogation point
me is Góes diz:
open parentheses capital letter close parentheses is point

dimanche 30 mars 2008

Ovelhas ou Pingüins?


Há muito não escrevo. Nunca vou deixar minha veleidade de fazê-lo se transformar em obrigação. Acredito que só assim posso manter os textos fiéis às quimeras que aparecem na minha cabeça enleada. Da mesma forma pretendo me esmerar para sempre escrever algo aqui e acolá. O repúdio pela rotina me impedirá (assim espero) de me tornar mais um tipo que trabalha de 8h às 18h, vê televisão e espera o final da semana, quando não fará absolutamente nada. Na roda social à qual estou às vezes amalgamado, eu consigo observar os jargões e modo de falar “adulto” invadir o vocabulário dos recém-formados engenheiros e recém-candidatos à infelicidade eterna com um anel dourado no anular direito. (pra deixar registrado: não sou contra casamentos, salvo aqueles onde os noivos são completos idiotas. 90% eu diria com clemência).
Eu luto com concupiscência contra esta onda funesta de “normalidade”. Espero nunca provar o opróbrio de habitar dentro da Norma. Almejo ter pra sempre meu assento num canto esquecido na câmara dos esquisitos. Só assim, liberto das hipocrisias e moralismos infundados dos “cidadãos modelos”, poderei quiçá gozar da verdadeira liberdade.
Sou constantemente desafiado pela minha própria mente no que concerne o limite entre o possível e o impossível. Preencho-me de uma raiva desvairada quando me é dito, ou quando concluo por conta própria, que um feito é inexeqüível. Eu sou racional, por isso sei que não conseguiria atravessar o Oceano Índico à remo, e que nunca irei tocar guitarra ao lado de Mick Jagger. Eu me refiro às fantasias realizáveis e que são prontamente soterradas por uma pilha de tijolos de desilusões passadas, de preguiça, inércia e ignorância. Certamente este soterramento seja o meu maior objeto de raiva e fúria. E me sinto feliz por isso. A ira é tamanha que quisesse eu ignorá-la, não conseguiria.
E que vão ao inferno aqueles que gostam de viver como ovelhas.
Fora alguns desejos procazes, portanto indizíveis, há uma vontade recém nascida que poderá de servir de exemplo: ir para a Antártica.
Os pingüins nunca foram meus animais preferidos, nem no frio encontrei meu maior conforto. O preço tão pouco é açucarado: U$ 4.800 o pacote mais barato, com direito a 25 dias no continente gelado, a bordo de um quebra-gelos russo da década de 60, num quartinho contíguo à sala de máquinas. Além de uma galé, é caro. Mas é factível. Você que lê deve pensar: “Meu deus, que completo idiota”. Provavelmente. Mas não me importa. Eu vou. E ao me indagar o porquê deste desejo irremediável, eu enxergo com limpidez.
Quero provar pra mim mesmo que a barreira do possível está muito mais distante do que eu possa pensar. No mínimo além do Pólo Sul.

vendredi 14 mars 2008

Dicas nada humildes de um cara que não sabe nada:




As pessoas não ligam realmente pra você, então faça o que bem entender.

Veja menos televisão, ela é verdadeiramente a pior droga contemporânea.

“E se...” está entre as frases mais atormentadoras que habitam nossas cabeças. Minimize a quantidade delas. Faça as coisas que te fazem suar frio.

Oragnize-se para conseguir as coisas que você mais quer a longo prazo.

A vida não é justa.

Não hesite em encerrar amizades e relacionamentos expirados.

Inveja é tão besta quanto querer uma onda pra você mesmo. O mar é gigante, serve a todos, e ainda sobra muito.

Converse com pessoas de grupos diferentes do seu. Um grupo fechado geralmente é idiota.

Quando estiver dirigindo não se esqueça que você não passa de um pedestre segurando um volante.

Seja educado.

Pessoas ricas podem ser boas ao mesmo tempo.

Pessoas humildes podem ser maléficas.

O inverso das duas frases anteriores também é possível.

Ser fiel a você mesmo é a única maneira de ter auto-confiança.

Não confie em que é sério demais.

Nunca recuse o bolo de fubá de uma avó mineira.

Minta quando for necessário, mas ser verdadeiro dá menos trabalho.

Desconfie do moralista.

Repudie o desconfiado.

Mate o fofoqueiro.

lundi 10 mars 2008

Sanidade? Não, obrigado.


Estava eu há alguns dias me debatendo para escrever sobre o tema “normalidade”. E juntamente o meu ódio e desprezo pela mesma. Eu tentava achar a origem desta raiva do que é comum, ordinário, ponderado, contido. Eu não achei. Sei que tenho. Talvez esteja me adaptando à minha recente aceitação do meu quadro definitivamente anormal. Cá entre nós, eu estou até gostando deste diagnóstico. Um doido é muito mais livre que um são.
Eu tendo quase sempre a me simpatizar com pessoas estranhas, esquisitas, anormais, bizarras e afins. Geralmente são mais divertidas.
Daí eu achei um texto do Oscar Wilde que diz exatamente o que eu queria dizer. A gente sabe que o cara é o cara quando ele consegue traduzir tão bem a mente pro papel.
Enfim, eu me calo e passo a palavra pro Oscar:


Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.

Escolho os meus amigos não pela pele nem outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito ou os maus de hábitos.

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero o meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco!

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.

Não quero só o ombro ou colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos, nem chatos.

Quero-os metade infância e a outra metade velhice.

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto.

E velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos,

Nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão estéril.


Oscar Wilde

mercredi 20 février 2008

Parabéns doutor!


Vá lá, me dê o parabéns, é meu aniversário. Muito obrigado.
Eu já me cansei de falar isso, mas nunca entendi verdadeirmente a lógica da comemoração dos aniversários. Eu nasci no dia 20 de fevereiro de 1981. No Hospital São Lucas, na cidade de Belo Horizonte. 9 meses antes disso eu era uma criatura microscópica junto de outros bilhões de camaradas espermatozóides tentando chegar ao tão almejado óvulo. Ok, talvez eu seja um grande campeão por ter vencidos meus bilhões de potencias irmãozinhos. Mas quem neste planeta Terra não foi? O nerd mais looser do mundo também foi um grande vencedor na maratona espermatozóica. Tanto quanto Frank Sinatra. Mas quiçá várias trapaças sujas foram maquiavelisadas pra se conseguir fecundar. Talvez tenhamos sidos espermas corruptos e sem escrúpulos... vá saber. (Neste caso embrionário pode ser que os fins justifiquem os meios).
Enfim, não deve ser então por este motivo que pessoas me dão os parabéns todo santo dia 20 de fevereiro.
Tão pouco eu tenho méritos por ter nascido no dia 20 de fevereiro. Na fase “feto” da minha vida não tinham me ensinado o tal calendário ainda. Na verdade eu só nasci porque o dr. Oswaldo resolver me tirar do ninho da minha mãe neste dia, eu não tenho nada a ver com isso. De fato, se pudesse eu estaria no quentinho até hoje. Talvez eu devesse ligar para o dr. Oswaldo hoje e felicitá-lo por ter competentemente colocado mais um saco de pele e osso no mundo. Se o referido estivesse ainda vivo, quem sabe eu não colocaria uma transferência de chamadas do meu telefone para o dele todo dia 20 de fevereiro, desta forma o “parabéns” seria destinado à pessoa merecida.
Eu não me tornei uma ano mais velho do dia 19 pro dia 20 de fevereiro. Eu me tornei mais velho dia após dia ao longo do ano, e a virada do dia 19 para o dia 20 só tem 1/365 de culpa na minha aproximação da terceira idade. Sejamos justos.
De toda forma, é ótimo receber os parabéns, mesmo que você não tenha feito nada para merecê-lo.
O que me soa razoável como lógica de surgimento do chamado “aniversário” é que tínhamos que escolher uma data para celebrarmos a existência de um indivíduo. Foi então que alguém disse: “já sei, a data de nascimento é conveniente”. Este infeliz não sabia as conseqüências de sua sugestão. Quantas namoradas, esposas, noivas, amantes e c&a já não lascaram seus respectivos parceiros por esquecerem seus aniversários? Não são poucas. Sem esquecer das bodas, jubileus e todas as datas espalhadas no ano que devemos lembrar caso não quisermos ser envenenados no jantar.
Eu sugiro que todos os aniversários do mundo sejam alocados numa mesma data comum, assim como Natal, réveillon e afins. No dia 15 de abril, por exemplo, todo mundo faz aniversário! Ou melhor, todo segundo sábado de abril, assim eliminamos o risco do temido “aniversário na segunda-feira”. Todos se presenteiam, fazem churrascos, bebem cerveja e vinho. A economia se movimentaria de forma extraordinária, afinal todas as pessoas do mundo sem excessão seriam presenteadas. Além destes benefícios, extigüiríamos as injúrias das esposas, os desleixos dos pais ausentes e esquecidos, as desculpas de última hora e tantos outros incovenientes que uma memória fraca pode trazer.
Por isso, na minha ilha, no segundo sábado de abril todo mundo fica mais velho. E na data do seu nascimento, se quiser ligar pra alguém, que ligue pro seu ginecologista/parteira responsável.

OBS:

A wikipédia informa:
Para os antigos romanos Tácita era a deusa do silêncio e da virtude. Ela protege contra os perigos da inveja e das palavras maliciosas que carregam considerável energia negativa.
Os romanos consagravam a essa deusa o dia 20 de fevereiro.
Obtido em "
http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A1cita"

Por simpatia e afinidade com Tácita, me calo.
ERRATA: Acabo de descobrir que o nome do médico que me pôs no mundo é dr. Geraldo, não Oswaldo.

vendredi 8 février 2008

Falando em despedida...


Este texto é um trecho de um diário que escrevi enquanto morava na França. Achei nos fundos do meu computador. Estava sentado no TGV indo de Châtellerault a Paris. Tinha sido um dia cheio de despedidas.
Não sei o porquê, mas resolvi publicar. Cada dia o blog me deixa mais pelado. Talvez seja minha vontade de me despir.


"Hoje minha temporada no interior da França acabou. Hoje eu disse muito « au revoir ». Hoje um pedaço de mim ficou em Châtellerault. Chorei. Choraram. É, foi de verdade mesmo, eu senti igual gente grande. Saudades, alegria, tristeza, dor, paz. Ninguém me avisou que a gente podia sentir isso tudo junto.

Breve chega o fim da minha temporada européia.
Coleciono pedacinhos de gente. Pedacinhos que vêm de Compiègne, de Châtellerault, do Recife, de Curitiba, de Dresden, de Londres. Não sei o que fazer com essa torre de Babel interna. Talvez eu não deva fazer nada. Possuí-la e pronto.
Hoje eu tenho consciência que a França me encheu com alguma coisa. O que é essa coisa eu vou demorar pra descobrir o nome, talvez nunca. Só sei que essa « coisa » é positiva, sofrida. É ópio auto produzido.
Um dia eu ainda morro de saudades."



Chatêllerault-Paris . 27/07/07 . 20h

jeudi 7 février 2008

Ela, a Despedida


photo by Celitchas





Você chega assim denovo
Abre alas na sexta
Mascarada de Reencontro

Escondendo a verdadeira face
Na última fila do bloco
Do desencontro

E por ser um menino
Viro amante
acredito mais uma vez
No teu disfarce elegante

Me entrelaço contigo
Esqueço do antigo
Na troça que sobe ladeira
Sou seu melhor amigo

Porém, por sadismo natural
não há bem sem mal,
nem quarta de cinzas
Sem carnaval

Daí me aparece ela
Sem fantasia, despida
A invejosa e insistente
Despedida

Me saturei de você
Despedida
Deixe-me sonhar sozinho
Me iludir de ausência sua
na minha vida

Mas já que é
pra estar sempre lá
Que volte tarde,
diga que não volta já

Como um veneno de serpente
Você me faz
Obrigatoriamente

Me despedir assim
Usando você
Pra te ter longe de mim
by me

vendredi 25 janvier 2008

La Vie en Rose

Cena do filme Sabrina. Um clássico. Audrey Hepburn cantando La Vie en Rose. Eu definitivamente nasci na época errada.

mardi 22 janvier 2008

un coup de souflle...

A saudade se conjuga no passado
O amor se conjuga no presente

A saudade é o amor distante,
Geograficamente,
Cronologicamente
Ou simplesmente

O amor quando se cadaveriza
Se transforma numa saudade
Recém-nascida

O amor nasce, cresce
e depois morre
A saudade é eterna, nasce, cresce
E depois cresce
E depois cresce

O amor quando se sente só,
É triste,
Quando se sente os dois,
É doce

A saudade quando se sente só,
É triste,
Quando se sente os dois
É triste

Ama-se o imaginário,
Que depois que transformou-se em realidade,
Virou saudade

O amor é um grito
de alegria ou de pavor
A saudade é um suspiro sempre
De dor

Quem não tem saudade
não viveu
e quem não tem amor
ainda não nasceu


By me

Perfil



Pretendo que este texto seja curto. Ele é tão pessoal que eu tenho quase vergonha de escrevê-lo, apesar de não ter nada de vergonhoso nele.
Eu sou uma pessoa fria e na maior parte do tempo bem-humorada. Raríssimas vezes na vida eu me acabei de chorar, talvez 2 ou 3 no máximo, contando com a infância. Já me apaixonei algumas vezes, mas soube digerir preocupantemente bem a perda. Sofri? Sim, claro. Por uma semana. Depois voltei à minha vida normal. Isso não quer dizer que eu não tenha sentimentos. Eu os tenho, eles são contidos.
Saudade é uma excessão, eu sinto muita. Não me pergunte de quê, são muitas saudades diferentes e emboladas umas nas outras. Porém, isso é assunto pra muitas outras discussões acompanhadas de Buscopan.
Eu tenho uma vontade insaciável de viajar e conhecer o mundo. Talvez se um dia eu conhecer cada país do mundo, cada pessoa e cada comida, eu ainda assim não me satisfaça. Eu gosto da minha família, mas não tenho nenhuma necessidade de estar geograficamente perto dela o tempo inteiro. Não sou como todas as pessoas (absolutamente todas) que me reportam experiências no exterior e que dizem que “morreram” de saudades da família, dos amigos e etc. Eu não sou assim. Sinto saudades sim, mas não é nem de longe algo que se torne o mais importante numa experiência de longa duração em outros mares. Esse apego católico-latino à família e ao drama definitivamente não está no meu sangue. Por isso eu me considero frio. Ou melhor, me consideram frio. Eu me considero sensível e cheio de sentimentos, embora a lataria não revele o que se passa no motor. Será que é errado ser assim? Sou imoral, psicopata, frio, cruel ou qualquer outro adjetivo de conotação negativa por isto? Eu penso que não.
Por isso não confie em mim. Eu sou dissimulado e fingido quando quero. Posso te encher de sorrisos sendo que eu te odeio na verdade. Eu não faço isso. Já fiz menos vezes do que chorei. Gosto de deixar claro quando não gosto de alguém. Mas não se engane. Se eu precisar e quiser, eu sei como e vou fazer. Eu também sei mentir muito bem. Eu sempre menti muito quando eu era pequeno, mas isso é normal pra uma criança eu acho. Mas eu entrei na fase adolescente como um grande mentiroso. Até que em um certo réveillon (já não me lembro o ano), eu prometi silenciosamente pra mim mesmo que nunca mais na vida mentiria, estava com vergonha de mim mesmo. Eu não parei de mentir totalmente, afinal é uma questão de sobrevivência. Porém eu diria que eu diminui uns 95%. O que eu considero muito bom. A questão é: eu tenho o savoir-faire da mentira, e vou usá-lo se necessário.
Eu tento ser bom o tempo todo com as pessoas em geral, principalmente com as que eu conheço. Respeito o trânsito de maneira obsessiva, principalmente quando o contrário possa prejudicar alguém. A faixa de pedestre é a metonímia maior do contexto geral de trânsito. Eu paro na faixa de pedestre, sempre. E nesse país de macacos selvagens que é o Brasil, eu sou provavelmente a única pessoa que faz isso. Me sinto bem quando dou um presente legal à alguém, tento ser gentil sempre. Gosto muito de quem é gentil comigo e com os outros também. Odeio muito a falta de educação e desrespeito gratuitos. Tendo a ser muito punitivo quando se trata de algo que eu não gosto. Não brigo quase nunca com ninguém, mas costumo exagerar quando acontece. Xingo todos os nomes, bato, aniquilo, chuto, sou violento, trucido com todas as minhas ferramentas pscicológicas e físicas. Mas só por um curto período de tempo. Depois eu esqueço, perdôo, mesmo o imperdoável. Eu tenho certeza que eu sou esquisito. Mas não me importo mais com isso. De certa forma até gosto disso em mim mesmo. Ser esquisito.
Eu sou assim. Já fui fiel e infiel às minhas namoradas. Mas sempre gostei de todas elas. Ainda gosto de todas elas. E vou gostar pra sempre.
Eu cojito sempre duas vidas distintas: a primeira mais “normal”, na qual eu acho uma menina legal, caso, tenho filhos, engordo e morro. A outra me soa mais excitante: voar solo a vida inteira, de porto em porto, de cama em cama (essa vida também terminaria como a primeira, engordar e morrer). É uma vida de livros e filmes, mas os sonhos não são mistérios para mim, já realizei vários e sei que vou realizar muitos outros. Por isso, é realmente uma questão de escolha, não de contentamento ou inércia. Essa vida nômade faz meus olhos brilharem, mas como dito antes eu sou frio. Por isto, não precisaria de muito pra que eu mudasse de idéia, e jogasse tudo isso fora sem que me fosse aflorado muitos sentimentos. Na verdade, eu tenho a impressão que lá na ultra profundidade do meu oceano eu não sinto. Eu sinto e “des-sinto” muito facilemente. Eu troco de sonhos como troco de cuecas.
Não sei, refletindo bem, eu acho que eu deveria usar essas característcas a meu favor. Deveria mesmo sair por aí, e mandar tudo pra ar. Mas eu também sou consciente das coisas da vida, como ter que ganhar grana pra poder comer macarrão e beber cerveja. E isso implica em gastar muitas e muitas e muitas horas da sua vida sentado fazendo algo que você detesta, chamado emprego. Já me lamentei por não ser filho de Bill Gates, de ter que me preocupar com esse pedaço de papel estúpido chamado dinheiro. Mas depois de muito pensar, eu não creio que eu seria feliz assim, vivendo a vida em um iate ao redor do mundo. Claro que seria ótimo, mas algo ia faltar, um desafio, uma conquista prórpria.
Por isso, eu creio que as chances de uma pessoa ser plenamente feliz são aumentadas quando ela trabalha e obtém prazer naquilo que faz. Como alguém sente prazer sendo um arquivista ou secretária, não me pergunte. Eu pessoalmente acredito que 99% das profissões deixam as pessoas infelizes e doidas pra voltar pra casa às 18:00h. Eu não estou fora disso. A engenharia é bonita, mas como é chato trabalhar com ela, meu deus! Que profissão árida e cheia de pessoas toscas! Eu gosto de engenharia, eu não gosto de trabalhar com engenharia. Eu bem que queria gostar, e é dificil dizer isso, mas eu não gosto, e ponto final. Eu exerço minhas funções como um robô, por questão de sobrevivência. Deixo meu coração e meus tesões no criado-mudo ao lado da minha cama de manhã e vou trabalhar. É assim que eu faço todos os dias. Considerando minha idade, pode ser que haja vários empregos interessantes ligados à engenharia que eu desconheça. Mas é difícil de acreditar.
Eu não vou fazer outro curso de graduação, porém estou pensando seriamente em me nortear pra um novo rumo num médio prazo. Fazer um curso que me desvincule o máximo possível da engenharia e que me permita viajar mais, morar em outros lugares: África, China, Islândia, Chile, Estados Unidos, Japão... qualquer nome que eu citar aqui vai me deixar igualmente excitado. Talvez me candidato a ser um epregado da ONU em missões de ajuda humanitária em países que só se fodem o tempo inteiro. Quem sabe ser um fotógrafo de guerra da National Geographic? Ou fazer uma expedição à Antártica pra pesquisar os piguins imperadores durante 2 anos. Bom, só sei que eu chego quase aos meus 27 anos ainda cheio de sonhos adolescentes e muita ansiedade de realizá-los.
Talvez eu faça como um amigo meu que quer ser marinheiro mercante ao invés de se prostituir pra uma empresa lotada de ovelhas bitoladas. Ou como um outro amigo meu que quer ser diplomata. Ou como uma menina da minha idade que eu li num jornal, que foi passar uns anos com uma tribo quase selvagem na amazônia pra aprender a língua deles.
Se eu chegar aos meus 60 anos de idade tendo vivido uma vida “comum”, todo bom mentiroso vai saber reconhecer na hora que a frase “é, eu tive uma vida feliz” é falsa.
Uma lobotomia talvez me fizesse bem.

PS: é, o texto não saiu curto afinal..

vendredi 18 janvier 2008

...

Ai eu com uma dessas!

mardi 8 janvier 2008

Kastrup Airport


painting by Vladimir Dubossarsky
Pintado no Albergue da Juventude de Copenhague




Há um tempo estava eu no aeroporto de Kastrup em Copenhague, olhava as centenas pessoas que lá chegavam enquanto esperava minha vez de embarcar. Neste dia eu determinei que iria escrever sobre o que via naquele lugar. Porém esqueci. Esqueci de escrever, mas não do que vi. Ontem, proseando com uma amiga eu me lembrei desse dia, por acaso. A memória não é meu forte, então é provável que alguns detalhes importantes tenham se extinguido, mas o essencial eu guardei.
Pois bem. Eu acho fantástico lugares como aeroportos, rodoviárias, estações de trem e similares. Neste espaço físico dentro da cidade acontece milhares de cenas de novelas todos os dias. Encontros, desencontros. Milhares de pessoas chegam para uma nova vida, sabendo que nunca mais verão suas famílias. Se repararmos as pessoas nesses lugares, muitas estão olhando para o teto, para os carros, para as outras pessoas, contemplando aquele que pode ser seu novo lar para o resto da vida. “é que quando eu cheguei por aqui / eu nada entendi...” (Sampa de Caetono Veloso). Ou o contrário, alguns respiram seus últimos minutos daquela que foi sua casa desde moleque. Aeroportos e Cia são um banquete pra quem gosta de olhar pessoas. Eu gosto. É uma mina de acontecimentos fantásticos, dramáticos, corriqueiros, secos e molhados.
Mais emocionantes que ver alguém se despedir introspectivamente da terra natal ou de descobrir com olhos de criança uma nova vida, são as despedidas e os reencontros de pessoas com pessoas. No caso particular de Kastrup eu vi algumas cenas que se fixaram na minha memória espontâneamente. Vou descrever quatro. Seria mais apropriado na verdade chamar estas cenas de curtas-metragem. Isto porque são sequências de cenas que culminam em um final.
Nas 4 horas que eu deveria penosa e humildimente esperar para embarcar comecei a matar meu tempo olhando para seres humanos. A primeira pessoa que eu reparei foi um militar dinamrquês que iria recepcionar um outro militar dinamarquês que chegava do Iraque. Sim, a Dinamarca tem tropas no Iraque. Este militar dava uma entrevista à uma reporter em inglês e dizia ladainhas que não fiz questão de escutar. Do outro lado do saguão umas 40 pessoas esperavam o tal soldado chegar, cada uma delas com uma bandeirinha da Dinamarca na mão, que podia ser comprada por cerca de 30 Coroas Dinamarquesas (uns R$ 10) na banca ao lado. Creio que eram família e amigos. Faziam balbúrdia toda vez que uma leva de Homo Sapiens saia fresquinha do forno. Mas não, ainda não. Entre repórteres e bandeirinhas havia uma mulher, de cerca de 50 anos de idade, sentada, atenta ao saguão de desembarque. Já esperava havia tempo longo. Estava bonita, bem arrumada, mas nada demasiado, estava elegante. Usava uma saia até o joelho, maquiagem pouca e suficiente. Ela esperava. E eu me perguntava quem ela esperava. Um filho, marido, namorado? Ou um mero cliente? Não me engano, há dezenas de histórias fantásticas em aeroportos, mas da mesma forma há dezenas de histórias monótonas e corriqueiras. (onde eu quero chegar eu não sei, mas vamos escrevendo que sai alguma coisa).
O terceiro grupo de Homo Sapiens que eu observava era uma mãe e três filhos, moleques entre 12 e 15 anos. Eram árabes, e deviam esperar o pai, por suposição. Pensava eu: “pobre mulher que é obrigada a usar véu. Que vida reprimida e não vivida”. As bandeirinhas se agitam mais uma vez. Não, ainda não. A mulher de saia contorcia o pescoço e fatigava seus músculos oculares. Ela parecia só. Me aparece então a quarta pessoa, um rapaz de uns 25 anos, bem apessoado, claramente não dinamarquês. Também esperava alguém.
E eu então me disciplinei automaticamente a observar estes quatro grupos de pessoas por mera curiosidade. Como quem pega um filme no meio, e tenta entendê-lo somente com o final, sem ter visto o começo. O filme se mostrou não-hollywoodiano. Não houve explosões, nem mortes, nem alagamentos. Não houve desmaios, nem escândalos. Aconteceram momentos bonitos e sutis, que se não observados com atenção, passam desapercebidos. E são nestes momentos onde a emoção é tímida que eu me identifico, que eu percebo que não é novela nem filme. São Homo Sapiens de verdade, com estrias e rugas. O fundo não é um vale esverdeado italiano, é uma lixeira suja e um policial cutucando o nariz. É real. Isso é verdadeiramente emocionante.
A mulher de saia se levanta, seu marido (suponho) chega de terno e gravata, com uma maleta na mão, lhe dá um abraço lento. Um cheira o outro. Olham-se de perto, sorriem. Não se beijam. Saem de braços cruzados sem dizer uma palavra, nitidamente felizes.
O rapaz bem apessoado não demosntra muita emoção, quando sua mãe, pai e irmã mais nova chegam. São de origem humilde. Ele provavelmente veio de um país pobre para fazer a vida na Dinamarca, e a família veio visitar depois de muito tempo (continuo supondo). O rapaz parecia ter se dado bem, se vestia bem, usava gel no cabelo, era o membro mais alto da família. A mãe passava a mão no rosto do rapaz com um olhar de muito orgulho. O pai sorria e não passava sentimentos ocultos, estava feliz por ver o filho, simples assim. Mas a irmã com uns 13 anos de idade me emocionou de verdade. Talvez porque a sua reação foi a mais tímida de todas, mas também a mais incontrolável. Ela olhava o irmão bonito e alto, seus olhos desaguavam águas por mais que ela tentasse escondê-las. O sorriso no rosto estava firmado como concreto. Estava claro que ela tinha perdido qualquer controle sobre suas emoções. E ainda assim, os dois se abraçaram controladamente. Anos de distância os fizeram estranhos um ao outro. Não sei se eu soube passar direito a cena, mas pra mim foi muito emocionante assistir aquela menina tentando domar suas reações sem nenhum sucesso.
Já a família árabe começa a correr ao ver o pai chegando. Em pouco tempo ele tem três moleques pendurados em seus ombros pernas e etc. Os meninos se agarram ao pai como macacos em uma árvore. A pasta cai no chão. A mulher árabe observa serenamente a cena enquanto caminha em direção ao marido. A meninada abre espaço e o casal se abraça e se beija de maneira que não deixa dúvidas que ali existe amor. Uma cena mais clichê que esta é impossível. E me fez pensar como eu fui estúpido em pensar que as pessoas que usam véu na cabeça não amam.
Eu embarquei. Não cheguei a ver a chegada do soldado. Uma pena, teria sido interessante.
Este é mais um texto sem propósito, como podem perceber.
De qualquer forma eu recomendo o hábito de observar os outros. É muito bom observar as sutililezas alheias. Me faz sentir dentro do grupo dos Homos Sapiens, que são bem diferentes dos filmes. Não é preciso fundos musicais, nem a luz certa. As frases são espontâneas e as testas suadas brilham. Não há explosões de emoções, há o detalhe. Não há finais felizes nem grandes finalles. Voilà um reality show que vale a pena assistir.

lundi 7 janvier 2008

Ilha das Flores

Pra quem se interessar. Vale a pena pra quem tiver algum valioso tempo sobrando. Esse curta foi feito em 1989 e já nasceu atemporal e/ou eterno. Por Jorge Furtado. Dividido em duas partes :