lundi 3 septembre 2007

A onda.



Já pensei em várias maneiras de explicar a sensação da volta pra casa depois de um ano fora, a minha sensação.
Já tentei dizer que é como um sonho que tivemos, e do qual de repente acordamos. Mas não é bem assim. Uma abdução por OVNIs talvez explicasse melhor a sensação, mas ainda não é boa. O melhor que eu conseguir chegar foi a explicação da onda do mar.
Todo mundo já quase se afagou na praia quando era pequeno depois de ter tomado uma « vaca » de uma onda. Você está lá tranquilo quando de repente uma onde te pega de surpresa, te joga no fundo, te rodopia pra todos os lados, te enche os pulmões de água, te confunde, te desespera, te tira a respiração, te arranha. Você se encontra num estado absurdo de desespero, acha que a vida vai acabar. Em lances de segundo toda sua vida passa pela sua cabeça, arrependimentos, raivas, desperdício. Você se duvida a cada momento se vai viver ou morrer. Você luta, você se desespera. Mas acaba. Depois de um terror absoluto, acaba. Então você, ainda em estado de pânico, emerge d’água. Ainda tentando entender o que se passou você olha para a praia, pros banhistas, pras nuvens. E você percebe que nada mudou e que aqueles 10 min que você passou embaixo d’água lutando bravamente pela sua vida na verdade foram 10 segundos. Mas o que realmente te choca é que durante aquela luta pela sobrevivência, onde toda a sua vida passa pela sua cabeça, durante o desespero entre a vida e a morte ninguém te percebeu. Você não gritou porque estava debaixo d’água. Ninguém te viu, ninguém te ouviu. Você passou por uma experiência que vai lembrar pro resto da vida, e as pessoas nem sequer mesmo notaram que ela estava acontecendo. O banhista que estava bem do seu lado não te viu e continua remando sua prancha. Você quer gritar : « meu Deus, olhe o que aconteceu comigo ! Você não vai acreditar !». Mas a fadiga do pseudo afogamento te tira as energias, e mesmo se você ainda a tenha o suficiente para contar, você não o faz. Não o faz pois o surfista do seu lado não vai acreditar que aquilo tudo aconteceu entre uma onda e outra.

O tempo dentro d’água passa mais devagar. E só quem passou por experiência similar pode ouvir, ou quer ouvir.

4 commentaires:

Unknown a dit…
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Unknown a dit…

clap! clap! clap!
esse eu aplaudo de pé... concordo com tudo... sem tirar nem por!
parabéns

Rafael a dit…

O que disse é simples. Simplesmente magnifico.

Eduardo Suski a dit…

Velho, tô virando seu fã, poetero! Doido demais Fabio! Li de frente para trás se blog hoje e acho que vc já dominou a divagação. Ou simplesmente já está à vontade demais com ela. Interessante que ela é ótima para textos curtos, mas já pensou em um livro escrito desta forma? Eu não....... Agora,... vc achou realmente que estave no controle alguma vez? Tic, tic.... não é culpa sua... nem de niguém. Abraços, Suski.