dimanche 30 mars 2008

Ovelhas ou Pingüins?


Há muito não escrevo. Nunca vou deixar minha veleidade de fazê-lo se transformar em obrigação. Acredito que só assim posso manter os textos fiéis às quimeras que aparecem na minha cabeça enleada. Da mesma forma pretendo me esmerar para sempre escrever algo aqui e acolá. O repúdio pela rotina me impedirá (assim espero) de me tornar mais um tipo que trabalha de 8h às 18h, vê televisão e espera o final da semana, quando não fará absolutamente nada. Na roda social à qual estou às vezes amalgamado, eu consigo observar os jargões e modo de falar “adulto” invadir o vocabulário dos recém-formados engenheiros e recém-candidatos à infelicidade eterna com um anel dourado no anular direito. (pra deixar registrado: não sou contra casamentos, salvo aqueles onde os noivos são completos idiotas. 90% eu diria com clemência).
Eu luto com concupiscência contra esta onda funesta de “normalidade”. Espero nunca provar o opróbrio de habitar dentro da Norma. Almejo ter pra sempre meu assento num canto esquecido na câmara dos esquisitos. Só assim, liberto das hipocrisias e moralismos infundados dos “cidadãos modelos”, poderei quiçá gozar da verdadeira liberdade.
Sou constantemente desafiado pela minha própria mente no que concerne o limite entre o possível e o impossível. Preencho-me de uma raiva desvairada quando me é dito, ou quando concluo por conta própria, que um feito é inexeqüível. Eu sou racional, por isso sei que não conseguiria atravessar o Oceano Índico à remo, e que nunca irei tocar guitarra ao lado de Mick Jagger. Eu me refiro às fantasias realizáveis e que são prontamente soterradas por uma pilha de tijolos de desilusões passadas, de preguiça, inércia e ignorância. Certamente este soterramento seja o meu maior objeto de raiva e fúria. E me sinto feliz por isso. A ira é tamanha que quisesse eu ignorá-la, não conseguiria.
E que vão ao inferno aqueles que gostam de viver como ovelhas.
Fora alguns desejos procazes, portanto indizíveis, há uma vontade recém nascida que poderá de servir de exemplo: ir para a Antártica.
Os pingüins nunca foram meus animais preferidos, nem no frio encontrei meu maior conforto. O preço tão pouco é açucarado: U$ 4.800 o pacote mais barato, com direito a 25 dias no continente gelado, a bordo de um quebra-gelos russo da década de 60, num quartinho contíguo à sala de máquinas. Além de uma galé, é caro. Mas é factível. Você que lê deve pensar: “Meu deus, que completo idiota”. Provavelmente. Mas não me importa. Eu vou. E ao me indagar o porquê deste desejo irremediável, eu enxergo com limpidez.
Quero provar pra mim mesmo que a barreira do possível está muito mais distante do que eu possa pensar. No mínimo além do Pólo Sul.

3 commentaires:

Rafael a dit…

Louco? Imbecil? Nem de longe.
Ver o navio estalando o gelo deve ser estarrecedor.

Maíra Lisbôa a dit…

é!

Ficar la, ver o gelo derreter, e observar se ao longo desse descongelamento, a paisagem mudando, os pensamentos se renovem!

Nara Portela a dit…

sempre achei o esquisitos mais interessantes... mas lela diz q eu nao sou esquisita nao =(