mardi 22 janvier 2008

Perfil



Pretendo que este texto seja curto. Ele é tão pessoal que eu tenho quase vergonha de escrevê-lo, apesar de não ter nada de vergonhoso nele.
Eu sou uma pessoa fria e na maior parte do tempo bem-humorada. Raríssimas vezes na vida eu me acabei de chorar, talvez 2 ou 3 no máximo, contando com a infância. Já me apaixonei algumas vezes, mas soube digerir preocupantemente bem a perda. Sofri? Sim, claro. Por uma semana. Depois voltei à minha vida normal. Isso não quer dizer que eu não tenha sentimentos. Eu os tenho, eles são contidos.
Saudade é uma excessão, eu sinto muita. Não me pergunte de quê, são muitas saudades diferentes e emboladas umas nas outras. Porém, isso é assunto pra muitas outras discussões acompanhadas de Buscopan.
Eu tenho uma vontade insaciável de viajar e conhecer o mundo. Talvez se um dia eu conhecer cada país do mundo, cada pessoa e cada comida, eu ainda assim não me satisfaça. Eu gosto da minha família, mas não tenho nenhuma necessidade de estar geograficamente perto dela o tempo inteiro. Não sou como todas as pessoas (absolutamente todas) que me reportam experiências no exterior e que dizem que “morreram” de saudades da família, dos amigos e etc. Eu não sou assim. Sinto saudades sim, mas não é nem de longe algo que se torne o mais importante numa experiência de longa duração em outros mares. Esse apego católico-latino à família e ao drama definitivamente não está no meu sangue. Por isso eu me considero frio. Ou melhor, me consideram frio. Eu me considero sensível e cheio de sentimentos, embora a lataria não revele o que se passa no motor. Será que é errado ser assim? Sou imoral, psicopata, frio, cruel ou qualquer outro adjetivo de conotação negativa por isto? Eu penso que não.
Por isso não confie em mim. Eu sou dissimulado e fingido quando quero. Posso te encher de sorrisos sendo que eu te odeio na verdade. Eu não faço isso. Já fiz menos vezes do que chorei. Gosto de deixar claro quando não gosto de alguém. Mas não se engane. Se eu precisar e quiser, eu sei como e vou fazer. Eu também sei mentir muito bem. Eu sempre menti muito quando eu era pequeno, mas isso é normal pra uma criança eu acho. Mas eu entrei na fase adolescente como um grande mentiroso. Até que em um certo réveillon (já não me lembro o ano), eu prometi silenciosamente pra mim mesmo que nunca mais na vida mentiria, estava com vergonha de mim mesmo. Eu não parei de mentir totalmente, afinal é uma questão de sobrevivência. Porém eu diria que eu diminui uns 95%. O que eu considero muito bom. A questão é: eu tenho o savoir-faire da mentira, e vou usá-lo se necessário.
Eu tento ser bom o tempo todo com as pessoas em geral, principalmente com as que eu conheço. Respeito o trânsito de maneira obsessiva, principalmente quando o contrário possa prejudicar alguém. A faixa de pedestre é a metonímia maior do contexto geral de trânsito. Eu paro na faixa de pedestre, sempre. E nesse país de macacos selvagens que é o Brasil, eu sou provavelmente a única pessoa que faz isso. Me sinto bem quando dou um presente legal à alguém, tento ser gentil sempre. Gosto muito de quem é gentil comigo e com os outros também. Odeio muito a falta de educação e desrespeito gratuitos. Tendo a ser muito punitivo quando se trata de algo que eu não gosto. Não brigo quase nunca com ninguém, mas costumo exagerar quando acontece. Xingo todos os nomes, bato, aniquilo, chuto, sou violento, trucido com todas as minhas ferramentas pscicológicas e físicas. Mas só por um curto período de tempo. Depois eu esqueço, perdôo, mesmo o imperdoável. Eu tenho certeza que eu sou esquisito. Mas não me importo mais com isso. De certa forma até gosto disso em mim mesmo. Ser esquisito.
Eu sou assim. Já fui fiel e infiel às minhas namoradas. Mas sempre gostei de todas elas. Ainda gosto de todas elas. E vou gostar pra sempre.
Eu cojito sempre duas vidas distintas: a primeira mais “normal”, na qual eu acho uma menina legal, caso, tenho filhos, engordo e morro. A outra me soa mais excitante: voar solo a vida inteira, de porto em porto, de cama em cama (essa vida também terminaria como a primeira, engordar e morrer). É uma vida de livros e filmes, mas os sonhos não são mistérios para mim, já realizei vários e sei que vou realizar muitos outros. Por isso, é realmente uma questão de escolha, não de contentamento ou inércia. Essa vida nômade faz meus olhos brilharem, mas como dito antes eu sou frio. Por isto, não precisaria de muito pra que eu mudasse de idéia, e jogasse tudo isso fora sem que me fosse aflorado muitos sentimentos. Na verdade, eu tenho a impressão que lá na ultra profundidade do meu oceano eu não sinto. Eu sinto e “des-sinto” muito facilemente. Eu troco de sonhos como troco de cuecas.
Não sei, refletindo bem, eu acho que eu deveria usar essas característcas a meu favor. Deveria mesmo sair por aí, e mandar tudo pra ar. Mas eu também sou consciente das coisas da vida, como ter que ganhar grana pra poder comer macarrão e beber cerveja. E isso implica em gastar muitas e muitas e muitas horas da sua vida sentado fazendo algo que você detesta, chamado emprego. Já me lamentei por não ser filho de Bill Gates, de ter que me preocupar com esse pedaço de papel estúpido chamado dinheiro. Mas depois de muito pensar, eu não creio que eu seria feliz assim, vivendo a vida em um iate ao redor do mundo. Claro que seria ótimo, mas algo ia faltar, um desafio, uma conquista prórpria.
Por isso, eu creio que as chances de uma pessoa ser plenamente feliz são aumentadas quando ela trabalha e obtém prazer naquilo que faz. Como alguém sente prazer sendo um arquivista ou secretária, não me pergunte. Eu pessoalmente acredito que 99% das profissões deixam as pessoas infelizes e doidas pra voltar pra casa às 18:00h. Eu não estou fora disso. A engenharia é bonita, mas como é chato trabalhar com ela, meu deus! Que profissão árida e cheia de pessoas toscas! Eu gosto de engenharia, eu não gosto de trabalhar com engenharia. Eu bem que queria gostar, e é dificil dizer isso, mas eu não gosto, e ponto final. Eu exerço minhas funções como um robô, por questão de sobrevivência. Deixo meu coração e meus tesões no criado-mudo ao lado da minha cama de manhã e vou trabalhar. É assim que eu faço todos os dias. Considerando minha idade, pode ser que haja vários empregos interessantes ligados à engenharia que eu desconheça. Mas é difícil de acreditar.
Eu não vou fazer outro curso de graduação, porém estou pensando seriamente em me nortear pra um novo rumo num médio prazo. Fazer um curso que me desvincule o máximo possível da engenharia e que me permita viajar mais, morar em outros lugares: África, China, Islândia, Chile, Estados Unidos, Japão... qualquer nome que eu citar aqui vai me deixar igualmente excitado. Talvez me candidato a ser um epregado da ONU em missões de ajuda humanitária em países que só se fodem o tempo inteiro. Quem sabe ser um fotógrafo de guerra da National Geographic? Ou fazer uma expedição à Antártica pra pesquisar os piguins imperadores durante 2 anos. Bom, só sei que eu chego quase aos meus 27 anos ainda cheio de sonhos adolescentes e muita ansiedade de realizá-los.
Talvez eu faça como um amigo meu que quer ser marinheiro mercante ao invés de se prostituir pra uma empresa lotada de ovelhas bitoladas. Ou como um outro amigo meu que quer ser diplomata. Ou como uma menina da minha idade que eu li num jornal, que foi passar uns anos com uma tribo quase selvagem na amazônia pra aprender a língua deles.
Se eu chegar aos meus 60 anos de idade tendo vivido uma vida “comum”, todo bom mentiroso vai saber reconhecer na hora que a frase “é, eu tive uma vida feliz” é falsa.
Uma lobotomia talvez me fizesse bem.

PS: é, o texto não saiu curto afinal..

5 commentaires:

Rafael a dit…

Set Sail!

Unknown a dit…

pronto,
eu ja voltei a te amar!!!!

;D

Unknown a dit…
Ce commentaire a été supprimé par l'auteur.
Fábio Biolchini a dit…

Eu tb te amo... mas eu sou mentiroso.
:P

Lila a dit…

Faz medicina.