
- Não, eu não te amo. Isso é uma ofensa à nossa história. -
Seria como dizer : « adorei esta refeição, parece um Big Mac. »
Eu odeio massificação, padronização e rotulação. Parece que só existe dois estados quando estamos com alguém. Antes e depois do « eu te amo ».
Como pode ser tão simplista essa diferenciação !
Cada pessoa tem uma história, uma maneira de pensar, um gosto musical, sues traumas, seus prazeres. Como podemos desprezar a complexidade de cada pessoa? Como podemos precisar tão digitalmente o estado em que sentimos as coisas? Ou eu eu te amo ou não. É como o número um e o zero booleanos. Ou é, ou nao é.
Não gosto que me digam como devo me sentir. Já ouvi muitas frases da natureza : « se você pensa sempre na pessoa, se sentes saudades é porque está amando ».
Faça o que quiser, mas não classifique o que eu sinto. Afinal nem eu sei.
- Eu sinto uma mistura de saudades, alegria, vazio, euforia, sonho, conforto , desespero e mais muitas outras coisas que não escreveram ainda no dicionário. Se querem chamar de amor, que chamem, mas é simplista e incompleto. A única coisa que eu sei é que no meu peito chacoalha um cocktail de emoções único, só meu, só nosso -
Toda essa padronização me irrita muito. Muito. Assim como odeio dança coreografada, Gugu Liberato, dia dos namorados e piadas machistas. Big Macs também. Todos os últimos são uma tentativa de padronização, de massificação ; Como se todos fôssemos iguais e com uma quantidade de sentimentos padronizadas. E se o que eu sinto for algo que ninguém nunca sentiu ? Quem sabe o que o outro sente ?
Esse ensaio de aniquilar toda originalidade do indivíduo é uma tragédia. Há tanta beleza e horror em cada pessoa. Cada pessoa é uma peça de teatro, com suas tragédias e comédias.
No dicionário, no lugar da palavra « amor » deveriam existir linhas em branco. Cada um completaria com sua própria definição. Afinal definir o amor “comum” não faz nenhum sentido. Pelo menos pra mim não.
Essa mania do ser humano de traçar fronteiras é tão virtual quanto a linha do Equador. Minha bússula não funciona, o norte e o sul se misturam. O oceano Atlântico e Pacífico se misturam, não há linhas que os separam.
- O caos que existe dentro de mim tem um filho, ele se chama paz. É tudo o que eu sei. –
- Só tenho certeza de que sinto, simples como deve ser. E que no meu Aurélio o seu nome está escrito em algum lugar entre as linhas em branco .-
O dicionário continua pequeno pro nosso infinito interior.